
poema
Corpo do dia
tradução de Cristiane Grando
Creio na grata mansidão de uma maçã.
E se de crer se trata, eu creio
no dia de Deus repartido no cosmos
como um leque que se abre e cujos raios são caminhos,
tumultuosos caminhos
pelos quais se despenha o homem.
Creio na santíssima vontade de estar
vivo onde estou, sob o fatalismo de haver nascido
uma vez e ter-me dirigido em direção à morte,
sítio irreal, inconcebível,
onde é impossível permanecer.
Creio na solidão do doce sonho erótico
na casa rodeada pelo sonho
e a solidão em cujo interior converso com o ar.
Creio na virgem do retrato,
na madona rodeada pela fonte,
na estátua que és tu, corpo do dia,
em que creio com todas as forças de minha vida.
Virgílio Piñera tem dois livros traduzidos para o português 'A carne de René' e 'Contos frios'.
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