As declarações do ator Marcelo Serrado, que não admite que a filha veja um beijo gay na televisão, mas afirma não ser homofóbico, me fizeram lembrar daquela senhora que, embora prefira que a filha não se case com um negro, insiste que não é racista.
O personagem que Marcelo interpreta na novela Fina Estampa, o Crô, como vários outros personagens homossexuais que a televisão inventa e veicula, reforça o estereótipo de que ser gay equivale a ser objeto de piadas ou humilhações. É a mesma mentalidade que, durante anos, apresentou a quase totalidade dos negros televisivos como escravos, empregadas domésticas e marginais.
Os homossexuais estereotipados que a televisão apresenta garantem a audiência, ao satisfazer a curiosidade do público (“como é um gay?”), sem desafiar os padrões moralistas ainda vigentes (“ser gay é ridículo”). É por isso que a maioria dos homossexuais que aparece na televisão é caricata.
Os gays convencionais, que têm profissões comuns, relações estáveis e são bem-sucedidos na vida são ocultados da visibilidade pública. Para a televisão, eles praticamente não existem. Sabe por quê? Porque eles desafiam a noção moralista de que ser gay é uma condição humana inferior e condenável.
Em relação aos negros, a coisa mudou. Agora, nas novelas, ser negro não representa uma condenação à pobreza ou à marginalidade. A televisão passou a desempenhar papel construtivo na afirmação da igualdade racial e da noção de que a negritude não limita as possibilidades existenciais de ninguém neste mundo. Está na hora de fazer o mesmo com relação aos homossexuais.
No passado, os negros só comiam na cozinha. Hoje, os homossexuais não podem se beijar.É de justiça que isso mude.
Texto escrito por Alexandre Vidal Porto e publicado em seu blog na Bravo!
Batman & Robin, foto de Terry Richardson
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