28.12.11

Um Buraco Chamado Desejo

Se um simples buraco começa a significar privação, é o bastante para que oscile o majestoso edificío do amor. Meu desejo agora incha, filho da contundência. Ganas de preencher.
*
Pepo sente pânico de ser penetrado. Seu cu é sua parte mais rigorosamente proibida. Há alguns anos atrás, forçou-se a dar. Mas, de tão tenso, praticamente abortou as tripas, que saíram grudadas no pau do parceito. Pepo conta que chorou de medo, ante aquela flor malígina e intrusa a pender dentre suas pernas. Com dedos incertos, empurrou-a para dentro e devolveu assim, às profundezas, seu maior estigma, seu mais intestino segredo. Estranhou-se também seu horror.
*
Essa impossibilidade não me incomoda até momento em que seu buraco interditado ao amor comeã a ser assediado pelo meu desejo cafajeste que já anda babando e bêbado. Nessas horas, Pepo é benevolente: dispõe-se às tentativas possíveis, com auxílio de nossos diversificados cremes e de inusitadas carícias.
E no entanto, nada.
*
Meu desejo galopa desenfreado mas impossível. Consolo-me mordendo os lábios. Há defasagens, remordimentos. Arranco sangue.
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Será essa talvez a face canibalesca do amor. Eu e Pepo duelamos. Eu o agarro, ele foge. Quero desvendar seu labirinto. Mas ele mantém o segredo num cofre sem fechadura. Ou será minha chave inadequada?
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Já não sei onde termina o suplício que padeço e onde começam as torturas que lhe aplico. Pouco importa tanta sutileza.
*
Além do dedo e lingua, tentamos objetos - um pepino inglês, por exemplo, de diâmetro bem modesto. Nada entra. Pepo chora dizendo que, apesar de hermético, seu amor é imenso. Mas parece que nem toda paixão do mundo faria o mais desejado cu se abrir.
Ele resiste como uma muralha.
*
Interrompemos a trepada outra vez. Cada um de nós vai chorar num canto. Eu , de tesão enrustido. Ele, de culpa acumulada.
Prometo redobrar as tentativas. Eu, Dom Quixote, e minha lança afogueada.


Retirado do livro 'Vagas Notícias de Melinha Marchiotti', do João Silvério Trevisan, 1984

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