8.11.09

sobre alguns meninos e algumas meninas

Minha segunda hipótese é de que o amor para a mulher tem um papel fundante não equivalente ao papel do amor para o homem. O amor para a mulher tem um papel equivalente ao que tem a amizade para os homens. Que desse total desencontro de interesses se originem mais tarde relações até estáveis e no mínimo intensas é mistério que só as profundezas da diferenciação sexual podem explicar. (...) O menino afinal se apaixona, se apaixona a mando do desejo - mas sente essa paixão como derrota, como perda de poder. Tenta escondê-la dos 'outros' - os que ainda se julgam auto-suficientes (...) Seu truque será fazer do pênis órgão de potência apenas, sinalização positiva do que o menino pensa ter em excesso, em vez de sinal negativo daquilo que lhe falta. Seu truque será separar o desejo do amor - e enquanto ele puder dizer: 'desejo todas', fazer da mulher peça intercambiável a serviço do falo, estará protegido outra vez da castração. (...) em sua convalescença narcisista a garota também aprendeu algo. Agora ela ainda espera que a cura definitiva venha do amor, mas reprime o desejo. É assim que ela revaloriza seu corpo, seu órgão vazio: negando qualquer necessidade de contato, de preenchimento. (...) A defesa do homem é desejar sem amar, a da mulher é amar sem desejar: continua sendo espantoso que nos encontremos".

"Masculino/feminino: o olhar da sedução", de Maria Rita Kehl, em O olhar - org. por Adauto Novaes, SP: Cia das Letras, p. 418-419.

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