vi esses dias a viva, morta ou simplesmente suspeita maria dentro de um ônibus, estávamos nós quatro, ela e uma outra garota, o motorista e eu, que estava sentado lá no fundo quando elas entraram um pouco molhadas ... tá prestando atenção?
'tô prestando, cara, continua.
ela e a outra menina sentaram-se em um banco duplo e no inicio se mantiveram caladas, estava chovendo um pouco e maria olhava para fora com o olhar meio perdido, parecia mesmo era que ela não via nada - além de tudo o que já havia visto. depois ficou olhando por um tempo a amiga, que estava concentrada lendo uma revista ou alguma coisa do tipo que não pude ver ao certo pois via apenas suas nucas e os seus perfis quando se viravam uma para a outra. o cabelo das duas estavam presos para cima, tipo coquedebanana, fraga?
sim, e daí?
daí que maria começou a falar pra outra de sua família, ao que parece o pai dela é um daqueles escrotões que batem em 'suas' mulheres, querem sempre suas cuecas limpas e passadinhas (e ainda são bem frescos), almoço pronto quando chegam, essas coisas. e ... só perdem tempo com futebol e gostam de conquistar mulheres para exercitarem sua masculinidade, maria disse ainda que ele bate muito na mãe e que desta última vez ela foi parar no hospital e tudo. maria não pôde fazer nada para ajudá-la, ela tentou, bem que tentou, disse, mas o cretino deu-lhe uma bofetada que jogou-a longe, a assustando de vez.
que horror, e a mãe dela não vai na delegacia, essas coisas?
ao que parece não; quando estava parando de chover parecia que as janelas do ônibus choravam, todas elas.maria deve ter notado também. logo voltaram a falar, maria disse que era tão esquisito isso, sua mãe uma mulher tranquila, educada, cuidadosa, dona da casa e o seu pai assim, metido a valentão, agressivo, dono do mundo, dono da mãe, do cachorro, dela própia, do controle da tevê e da bicicleta. maria não gostava de sua mãe assim tão submissa e disse também que não saberia dizer se sua mãe seria uma mulher realmente se não estivesse casada com aquele traste que era o pai, uma pena mesmo disse ela, mas a mãe não discutia, apenas apanhava e apanhava, pedia tranquilamente para que maria fosse brincar na vizinha, o que era o cúmulo para ela. por que o mundo é tão violento? perguntou ela pra amiga, que abriu a boca pela primeira vez dizendo 'porque somos homens', e maria disse a ela que não queria ser mais homem. depois disso elas puxaram a cordinha e desceram em uma rua perto do centro.
escuta, acabei de lembrar, sabe o carinha metido a valente que ela namorava?
pobre maria, rodeada de escrotos. quê que tem ele?
então, você nem imagina que maravilha, ela deu um soco no saco dele - parte tão adorada de seu corpo
sério? mas nesse mesmo dia do ônibos ela disse que não gostava dessa postura autoritária, violenta e...
não, não é isso, o caso é que ela o trocou por uma mina!
1 comentário:
Achei ótimo!!
Bem original e mostrando uma realidade de um ponto de vista diferente.
xD
Postar um comentário