Alguns dias atrás, na novela AMOR à Vida da globo, revelaram o segredo do personagem Felix, assisti ao episódio com o coração disparado. Atiraram um caminhão de pedras no vilão. Tento entender por que na novela não existem pessoas “reais”. Eu sei, é uma ficção. Eu sei também que são muitas as mentiras, sei que a vida real não é como aparece lá, mas o que mais me intriga é que na novela não apareçam (pelo menos não em papel de destaque) pessoas PLURAIS, de sentimentos e condutas contraditórias como todo mundo, só existem pessoas únicas, que são duas: ou deuses ou diabos.
Felix
cometeu um pecado/um crime, e a partir desse momento tornou-se um rato/um
monstro. Sua família aterrorizou-se e, logo, tocou o terror. Preciso explicar
que não procuro aqui justificar ou minimizar o erro de Felix, e sim por em
debate o perigo do dualismo BEM e MAL.
“BARBÁRIE”.
“Tem coisa na vida que não tem volta”. “Estou horrorizada comigo mesma por ter
criado você”, mas é o Felix quem está sendo julgado, sozinho. Quão terrível é
então a sua mãe se se sente horrorizada consigo mesma, mas quem paga não é ela?
Na verdade ela não se sente assim, são palavras de efeito. Assim como Felix se
desculpa dizendo que agiu sem pensar, está agindo sem pensar a sua mãe e o
resto da sua família. Explodem-se emoções na cena, mas ninguém PENSA, ninguém
pensa.
O
vilão, a heroína, e também o (de)coro dos júris, uma tragédia grega diária como
entretenimento...
Percebo
que a novela se quer parecer neutra: defende gays e pastores, mas não tem
neutralidade ao tratar de comportamentos humanos. O que se deve fazer... O que
não se faz... Quais são os pecados prescritos? Felix, infantilizado,
denunciou-se vítima, contou das suas dores, dos seus problemas. Eu o vi
criminoso, mas vítima também. Ninguém mais viu. NÃO HÁ AMOR que aguente.
Agora,
após a peripécia, o vilão age como um idiota, tão inteligente até então, ele se
torna exageradamente estúpido. Não esqueçamos que Felix é um personagem criado
por uma pessoa real. Se Felix não dimensiona o que fez, se se comporta como um
louco, isso faz parte da criação. Qual a intenção de um autor que cria um
personagem insano, mas que é julgado como se tivesse pleno controle de suas
faculdades mentais? Seria denunciar a ignorância com a qual lidamos com pessoas
psiquicamente doentes? Não acredito. Com quais intenções o autor desenha Felix
ora louco, ora vil? Sinto que com a pior das intenções: determinar quem é bom e
quem é mal.
A
novela quer nos induzir a odiar alguns e a reverenciar outros. A novela quer
nos induzir a odiar. Há muito ÓDIO na novela. Felix odiou sua irmã e cometeu um
crime terrível, jogou sua sobrinha recém nascida na
caçamba de lixo. Agora todos odeiam Felix, mas não são criminosos. Ódio é
permitido e incentivado, e foi isso que disparou meu coração. Podemos odiar
criminosos, assim como podíamos odiar negros, assim como pode-se odiar gays,
assim como odeia-se marginais.
A política
que permite aos bons odiarem os ruins é a mesma política que matou Sandro do
Nascimento, do ônibus 174, na frente e com o apoio de quase todo o país. Os
criminosos são dignos do ódio dos justos, para poucos Felix, para muitos
Sandros do Brasil.
A
frase mais legal que ouvi em 2013: a novela presta um “desserviço” à sociedade.
Desligue o ódio, façamos, vamos amar!
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