- Não é incômodo? No banco, no supermercado?
- Pelo contrário. Às vezes, as pessoas cedem a vez...
Existe um estranhamento menor do que parece – “O primeiro passo é o mais difícil”. O fato é que o cartunista Laerte Coutinho saltou das páginas dos quadrinhos a partir do momento em que passou a se travestir de mulher. Trata-se de uma reflexão sobre gênero. “Comecei a me travestir porque, primeiro, eu vi que era possível. Segundo, eu vi que eu desejava muito isso”, diz o criador de Muriel. Para Laerte, o medo de se travestir é mais uma insegurança interna de quem se traveste do que um “mal estar no mundo”. Arrigo constata que o amigo de longa data está criando um novo tempo interior – “Travestir me parece que abriu uma outra dimensão”, concorda o cartunista.
Existe um estranhamento menor do que parece – “O primeiro passo é o mais difícil”. O fato é que o cartunista Laerte Coutinho saltou das páginas dos quadrinhos a partir do momento em que passou a se travestir de mulher. Trata-se de uma reflexão sobre gênero. “Comecei a me travestir porque, primeiro, eu vi que era possível. Segundo, eu vi que eu desejava muito isso”, diz o criador de Muriel. Para Laerte, o medo de se travestir é mais uma insegurança interna de quem se traveste do que um “mal estar no mundo”. Arrigo constata que o amigo de longa data está criando um novo tempo interior – “Travestir me parece que abriu uma outra dimensão”, concorda o cartunista.
“A cultura machista – masculinista mais do que machista – diz que
ser masculino e homem são a mesma coisa, deve ser a mesma coisa. [Ser
homem] é uma espécie de galardão da natureza, uma espécie de prêmio.
[...] Abrir mão desses atributos – da roupa, do modo de falar, do modo
de agir, de todos os clichês de gênero – é uma indignidade, é uma coisa
que você só faz em nome do ridículo ou coisas assim.”
“Toda criança desenha intuitivamente porque a expressão gráfica faz parte do mundo que ela vive e está aprendendo a usar!”
Começou a desenhar em criança. Quando fez uma “ponte” que o
impulsiona durante toda a vida: a conexão entre a experiência
emocional, afetiva, e a possibilidade de expressão. “Eu desenhava as
coisas que eu gostava. Lia uma história, via um filme, quando algo me
impressionava, eu tinha uma resposta fácil à mão. Era muito
satisfatório desenhar, desenhar a respeito, continuar a história,
elaborar de diversas formas”, lembra.
Laerte, que vê o cartunista como um construtor de narrativa, nos
últimos tempos passou a trabalhar sem a presunção de uma piada.
“Abandonei o negócio de personagens e aquele meu modo tradicional de
fazer humor, construir piadas. Porque isso vai virando uma coisa meio
mecânica com o correr das décadas. Dei por encerrado um ciclo e deixei
para trabalhar de um modo livre, de alguma forma tentei recuperar um
modo de trabalhar de quando eu tinha 20 anos. Não em busca da juventude
perdida, mas em busca de alguma coisa que eu tinha deixado inacabado.
Acho que encontrei esse caminho. Nada pronto, ainda, mas um modo de ir
daqui para frente.”
Ele começou com a revista Balão (1972), que fundou ao lado de Luis Gê, uma referência. Foi neste mesmo ano, que Arrigo pegou uma carona com o cartunista na USP. Laerte cursava música na primeira turma da ECA – Escola de Comunicação e Artes. No Fusca se ouvia Eric Satie, mote para esta edição Supertônica gravada em junho de 2011.
Postado por Julio de Paula, 19.07.2011, na Cultura Brasil
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