"De novo eu devia decidir aonde ir. No momento mesmo em que eu me colocava essa questão, me dei conta de que um homem me seguia fazia algum tempo. Ele devia ser um quarentão. Me fez sinal para parar. Quando me alcançou, disse-me com uma voz fria, habituada a dar ordens: “Me siga!”. Aonde?
Por que o segui? Também ele me tomou por uma puta? Sem dúvida. Ele me agradava fisicamente, e é por essa razão que eu o acompanhei, em silêncio. Eu estava curioso também. Curioso de estar na pele de uma prostituta.
Ele me conduziu em silêncio a um local que eu ainda não havia descoberto, não longe da Placette, os mictórios. Entrando lá logo entendi que reinava neste lugar o que faltava alhures, no resto de Genebra: a sexualidade desbordante e poética.
Uma dúzia de homens de todas as idades estavam alinhados diante dos urinóis e olhavam os paus uns dos outros com gentileza. Isso me impressionou. Não estava chocado, era como se eu reencontrasse antigos colegas. Estes homens se desejavam sem violência, eles tocavam seus sexos com uma ternura extrema, com cortesia. Eles viviam nesse lugar subterrâneo e sujo uma sexualidade ao mesmo tempo clandestina e pública. Eles sorriam uns aos outros como crianças. Eles não falavam. No lugar disso, seus corpos felizes se falavam. Eles se masturbavam com a mão direita e tocavam as costas de seus parceiros com a esquerda. Estes homens não estavam em casal, eles faziam amor em pé todos juntos.
Meu homem de quarenta anos, sempre autoritário, não me deixa aproveitar por muito tempo dessa cena onde a humanidade dos seres na Suíça enfim se revelava a mim. Ele me tomou pelo braço e me levou pro toalete. Ele fechou violentamente a porta atrás de si e tão logo se pôs de joelhos. Ele abriu lentamente, docemente, minha braguilha, tirou delicadamente meu sexo e o colocou em sua boca para acordá-lo. Ele chupava bem, tão bem que me esqueci de retirá-lo para gozar. Ele tinha o ar em êxtase: ele engoliu meu esperma, todo meu esperma, fechando os olhos. Depois ele se levantou, enxugou os lábios e o queixo com um lenço, me beijou o pescoço, as duas bochechas e os lábios. Então seu cheiro forte de homem me invadiu inteiro. Por minha vez, eu fechei os olhos por dois ou três segundos para identificá-lo bem e registrá-lo no fundo de mim mesmo, no meu peito e no meu coração. Ele mergulhou sua mão direita no bolso de seu casaco e tirou uma laranja. Uma laranja! Ele me deu dizendo, desta vez com uma voz plena de ternura, esgotada pelo prazer: “Obrigado! Passo por aqui todos os dias perto das 18 horas, exceto nos fins de semana. Até amanhã!”.
Foi embora.
Eu fiquei por um pequeno instante nos banheiros para me recompor, entender o que acabava de me acontecer com este homem, gozar mais, logo mais, do meu prazer colocando a laranja sob o nariz para sentir seu delicado odor. Eu estava feliz com este prazer, aliviado. Finalmente, ele não me tinha tomado por um prostituto. Eu o agradei, ele queria me experimentar, e foi simples assim. Nada a mais. Uma troca equitável de gozo.
Como ele sabia que a laranja era minha fruta preferida?"
(Abdellah Taïa, L'armée du salut, l. trad., p. 131-133)
Por que o segui? Também ele me tomou por uma puta? Sem dúvida. Ele me agradava fisicamente, e é por essa razão que eu o acompanhei, em silêncio. Eu estava curioso também. Curioso de estar na pele de uma prostituta.
Ele me conduziu em silêncio a um local que eu ainda não havia descoberto, não longe da Placette, os mictórios. Entrando lá logo entendi que reinava neste lugar o que faltava alhures, no resto de Genebra: a sexualidade desbordante e poética.
Uma dúzia de homens de todas as idades estavam alinhados diante dos urinóis e olhavam os paus uns dos outros com gentileza. Isso me impressionou. Não estava chocado, era como se eu reencontrasse antigos colegas. Estes homens se desejavam sem violência, eles tocavam seus sexos com uma ternura extrema, com cortesia. Eles viviam nesse lugar subterrâneo e sujo uma sexualidade ao mesmo tempo clandestina e pública. Eles sorriam uns aos outros como crianças. Eles não falavam. No lugar disso, seus corpos felizes se falavam. Eles se masturbavam com a mão direita e tocavam as costas de seus parceiros com a esquerda. Estes homens não estavam em casal, eles faziam amor em pé todos juntos.
Meu homem de quarenta anos, sempre autoritário, não me deixa aproveitar por muito tempo dessa cena onde a humanidade dos seres na Suíça enfim se revelava a mim. Ele me tomou pelo braço e me levou pro toalete. Ele fechou violentamente a porta atrás de si e tão logo se pôs de joelhos. Ele abriu lentamente, docemente, minha braguilha, tirou delicadamente meu sexo e o colocou em sua boca para acordá-lo. Ele chupava bem, tão bem que me esqueci de retirá-lo para gozar. Ele tinha o ar em êxtase: ele engoliu meu esperma, todo meu esperma, fechando os olhos. Depois ele se levantou, enxugou os lábios e o queixo com um lenço, me beijou o pescoço, as duas bochechas e os lábios. Então seu cheiro forte de homem me invadiu inteiro. Por minha vez, eu fechei os olhos por dois ou três segundos para identificá-lo bem e registrá-lo no fundo de mim mesmo, no meu peito e no meu coração. Ele mergulhou sua mão direita no bolso de seu casaco e tirou uma laranja. Uma laranja! Ele me deu dizendo, desta vez com uma voz plena de ternura, esgotada pelo prazer: “Obrigado! Passo por aqui todos os dias perto das 18 horas, exceto nos fins de semana. Até amanhã!”.
Foi embora.
Eu fiquei por um pequeno instante nos banheiros para me recompor, entender o que acabava de me acontecer com este homem, gozar mais, logo mais, do meu prazer colocando a laranja sob o nariz para sentir seu delicado odor. Eu estava feliz com este prazer, aliviado. Finalmente, ele não me tinha tomado por um prostituto. Eu o agradei, ele queria me experimentar, e foi simples assim. Nada a mais. Uma troca equitável de gozo.
Como ele sabia que a laranja era minha fruta preferida?"
(Abdellah Taïa, L'armée du salut, l. trad., p. 131-133)
2 comentários:
Muito mara! Tem traduções para o português? Besos
muito bom msm!
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