3.8.11

Diferença e transgressão no texto de Alexandre Vidal Porto

É verdade que a diversidade de interesses dentro de grupos marginalizados pode dificultar a chegada a acordos necessários para processos de representação e, portanto, dificultar a formação de estratégias de atuação por meios institucionais (por isso feministas como Iris Marion Young são muito cuidadosas ao tratar o tema da representação, para não negligenciar as diferenças). A diversidade, no entanto, é um fato com o qual os movimentos precisam lidar, e optar pela simples supressão da diferença parece ser o caminho inverso ao que o movimento LGBT deve tomar.
Neste sentido, acho questionável se a transgressão, como foi tratada pelo autor, pode ser reduzida a um elemento contraproducente no avanço dos direitos dos LGBT's. Ao afirmar que "não é preciso ser diferente para ser gay", o autor acaba, de certa forma, responsabilizando as vítimas do heteronormativismo por sua condição de opressão. Partindo do que já está estabelecido como aceitável, o diálogo racional nem sempre é possível. O que muitas vezes se considera escandaloso ou diferente inclui drags, travestis e, no caso destes indivíduos, a diferença não é apenas um capricho estético. Em nome de que movimento as travestis deveriam anular-se? Ou elas deveriam deixar de frequentar a parada e as drags comportar-se de modo menos espalhafatoso para o bem de todos? Antes de fazer tais concessões talvez seja mais apropriado questionar por que é que alguns segmentos da sociedade se ofendem com essas imagens (acrescente-se: nenhum comportamento escandaloso exibido na parada é causa de morte em estatísticas ou cerceia direitos humanos de heterossexuais homofóbicos). Não há transgressão estética, puramente. Uma imagem ultrajante desperta um emaranhado de significados conflituosos - a transgressão só existe na medida em que se dispõe a quebrar tabus. O diálogo racional com os que se opõe à inclusão dos LGBT é muito importante, mas acontece que muitas vezes ele se esgota ao deparar-se com a homofobia mais explícita, com tabus com os quais somente a transgressão poderá confrontar-se.
Deste modo, afirmar que a transgressão e o "estilo exagerado" de participantes da parada são retrocessos do ponto de vista político pode significar o abandono de aspectos fundamentais na defesa dos direitos dos LGBT's. A vontade de dançar, de exercer a orientação sexual, de viver, não se separam mecanicamente e, enquanto forem associadas à transgressão quando se apresentarem juntas, a parada se sustentará como uma grande festa de caráter político.

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