11.4.11

Vem de mim ou da cruz de Jesus?


Em Salão de Artes de Natal, performer tira terço do â

O cientista social e dono da missão Solange Tô Aberta! ficou nu em frente a um público e, de quatro, TIROU UM TERÇO DO CU em performance no 13º Salão de Artes Visuais de Natal  no ano passado.
 

A performance foi filmada e esteve em exibição na galeria Newton Navarro da Funcarte. O rosário também esteve em exposição (tadico!). Em entrevista ao site A Capa, Pedro comenta a repercussão da performance, diz o que pensa sobre o papel da arte e ainda fala sobre o futuro do Solange Tô Aberta!.

O vídeo já está no youtube?
Não, o vídeo não está na internet e nem tenho previsão de quando estará.

De onde surgiu a ideia da performance?
A ideia surgiu a partir de um show da Solange tô aberta! que foi realizada no “Dia do Índio” em Salvador. Eu comprei uns terços e, na hora do show, tirei um do meu ânus. Só que, no calor e na vibração do show, o trabalho se confundiu com as luzes, fumaça, figurino, música etc. Então pensei conceitualmente e refiz a performance de forma pontual, com a nudez e o ato em si. Percebi que era uma ação “simples” mas poderosa.

Que tipo de reações você recebeu e está recebendo?
Hoje [quinta-feira 18/03] dei uma entrevista para a televisão. O repórter vai entrevistar, também, um líder religioso (provavelmente um padre da igreja católica) e especialistas em arte contemporânea. Sei que há riscos de fortes reações. Leio na internet algumas coisas (opiniões de pessoas que leem as matérias) mas nada com um fundamento crítico para poder dialogar. Bem, entraram no meu orkut e mandaram eu enfiar um abacaxi e depois chupar… eu pensei, pensei… mas não posso roubar a ideia das pessoas (risos). Até pensei em enfiar um ananás que é mais grosso e mais doce (risos), mas desisti.

Como seus amigos e parentes enxergaram a performance?
Os amigos acharam-na muito forte, direta e objetiva. Entenderam a ação e admiraram a coragem e a ousadia. Ficaram muito felizes e, até hoje, estão em estado de êxtase com o trabalho. Os artistas daqui, que tem uma carreira na arte contemporânea, viram que a entrada e a realização dele no salão de Natal foi de extrema importância. Apesar de muitos salões e espaços terem o nome de “contemporâneo”, quando você faz uma proposição como a minha, percebe-se que, no fundo, é só o nome. E com o conhecimento, experiência e sensibilidade dos curadores convidados foi possível realizá-la e a Funcarte, aqui em Natal, não a vetou. Meus parentes inicialmente ficaram preocupados com meu ânus (risos). Mas, agora, estão preocupados com alguma reação negativa que possa me atingir diretamente.


Desculpe a pergunta incômoda, mas como você fez pra enfiar o terço no ânus?
Fiz a xuca, passei KY, e fui enfiando devagar, como bolinhas tailandesas…


Há pessoas que não entendem de arte, mas quando veem um trabalho como o seu gostam de opinar e criticar. Por que isso acontece?
Acredito que seja porque cada pessoa tem a sua leitura de mundo e muitas delas se sentem instigadas a expressá-las. Isso acontece em relação a tudo. Mas o debate conceitual sobre a obra, no meu caso, existe mais comumente no meio de artistas e curadores.

No ano passado uma escritora fez uma peça com um Jesus transexual. Mais recentemente uma exposição na Espanha foi cancela porque lançava um olhar gay sobre Jesus. Por que parece haver uma fixação da arte contemporânea com as questões ligadas a religião?
No Brasil temos o caso da Márcia X que háa alguns anos, com a sua imagem do terço em forma de pênis, foi barrada no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasília. Isso foi ótimo no sentido da mobilização dos artistas a favor da exposição da obra e em todas as questões que nos fizeram pensar criticamente. Qualquer religião envolve tabus, interdições, crenças fortes sobre o que se pode e o que não se pode fazer. Há valores morais envolvidos e, mais ainda, ditaduras sobre corpo, sexo, comportamento. Geralmente a instituição religiosa se torna um impasse entre o desejo das pessoas e a ética que ela aplica. Nisso, resultam conflitos, desde os internos individuais até as guerras.
Então religião também é um tema político a ser trabalhado. E arte contemporânea possui essa característica de questionar as relações de poder e da privação da liberdade de escolha. É dessa forma que eu enxergo. Necessito citar dois ótimos artistas que, assim como eu, tiveram seus trabalhos sobre sexo e religião realizados. É o caso do documentário “Bombadeira” do diretor Luis Carlos de Alencar (BA) e do trabalho de Marcelo Gandhi com velas em forma de pênis e terços, que o registro fotográfico faz parte do “Acervo em Movimento”, do Museu da Pinacoteca do Estado (RN). Ambos publicados com o apoio do Ministério da Cultura e outros órgãos importantes do país.

Você é religioso?
Sim. Sou espírita umbandista. Uma religião que nasceu no Brasil, com a influência direta da força indígena e da força africana e do kardecismo, e que não trabalha com a matança de animais. E também me considero pagão. Mas nada disso me impede de fazer ou ser nada.


Pra você qual é o papel da arte? Chocar, questionar, embelezar?
Fazer pensar sobre as questões atuais. Lógico que eu sou fruto de uma época e da minha história de vida. Mas, para mim, a arte tem que causar algo no corpo de quem vê e de quem realiza e, também, levar a uma confusão mental que leva a refletir. Arte é crítica, ou seja, põe em crise. Por isso artistas podem ser tão perigosos…

E o Solange Tô Aberta? Como está a banda? No ano passado vocês fizeram uma turnê na Europa. Quais são os próximos passos da banda para 2010?
Em primeira mão, te falo que apenas eu estou na Solange Tô Aberta! atualmente. O projeto está em off, se reformulando. As mudanças, obviamente, acontecerão e tudo indica que novos integrantes estão por vir, se aceitarem o convite. Se não, será uma “one queer band” (risos). As novidades virão no segundo semestre desse ano. Te deixarei informado de tudo ;-) 


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