"O que pode então significar 'identidade', e o que alicerça a pressuposição de que as identidades são idênticas a si mesmas, persistentes ao longo do tempo, unificadas e internamente coerentes? Mais importante, como essas suposições impregnam o discurso sobre as 'identidades de gênero'? (...) Enquanto a indagação filosófica quase sempre centra a questão do que constitui a 'identidade pessoal' nas características internas da pessoa, naquelo que estabeleceria sua continuidade ou auto-identidade no decorrer do tempo, a questão aqui seria: em que medida as práticas reguladoras de formação e divisão do gênero constituem a identidade, a coerência interna do sujeito, e, a rigor, o status auto-idêntico da pessoa? Em que medida é a 'identidade' um ideal normativo, ao invés de uma característica descritiva da experiência? (...) Em sendo a 'identidade' assegurada por conceitos estabilizadores de sexo, gênero e sexualidade, a própria noção de 'pessoa' se veria questionada pela emergência cultural daqueles seres cujo gênero é 'incoerente' ou 'descontínuo', os quais parecem ser pessoas, mas não se conformam às normas de gênero da inteligibilidade cultural pelas quais as pessoas são definidas"
Judith Butler, Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade
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